11 Agosto 2023
O argentino não quer desistir. O Papa Francisco pede ajuda aos xeiques para organizar o encontro impossível e sentar à mesma mesa os dois presidentes da guerra: Putin e Zelensky. Aquela que ele definiu como sua "ofensiva de paz", para acabar com o derramamento de sangue na Europa, é continuada por Francisco com a ajuda dos Emirados Árabes Unidos. Justamente em Abu Dhabi, em 2019, assinou o documento sobre a "Fraternidade Humana", acrescentando também esse à sua longa lista de tabus quebrados: foi o primeiro pontífice da história a visitar a península arábica.
A reportagem é de Michela A. G. Iaccarino, publicada por Il Fatto Quotidiano, 10-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma conferência de paz mundial poderia ser organizada nos mesmos dias da 28ª Cúpula COP28, a conferência internacional sobre o clima que se realizará em novembro próximo e será sediada, pela primeira vez, em Dubai, no Golfo Pérsico, reino das energias fósseis que flutua em petrodólares. Enquanto nos bastidores, de acordo com as capitais europeias, continua o trabalho do cardeal Parolin e do cardeal Zuppi (que visitará Pequim depois de Kiev, Moscou e Washington), o Vaticano decide colocar suas esperanças não em Mbs, mas em Mbz: não no príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, que acolheu Zelensky primeiro na cúpula da Liga Árabe e depois na cúpula de Jeddah (40 países convidados, mas não a Federação Russa), mas em Mohammad bin Zayed, presidente dos Emirados Árabes Unidos. Depois de Erdogan e Xi, é a vez do emir que o New York Times em junho de 2019 definiu como “o líder mais poderoso do mundo árabe”, entre os líderes estrangeiros mais “influentes e ouvidos por Washington”.
A colaboração para o cessar-fogo na Ucrânia será tentada novamente, desta vez com a ajuda do príncipe muçulmano de 60 anos e do chefe da Igreja Católica, que não teme reprovações por construir pontes inéditas. “Em certas salas escondidas, a guerra está sendo planejada”, disse o papa ontem durante a audiência, “mas outro mundo é possível”.
A indiscrição sobre a organização de um encontro direto dos líderes russos e ucranianos foi compartilhado por dois altos diplomatas – um ocidental, o outro árabe – que pediram anonimato ao jornal libanês de língua francesa L'Orient-Le Jour, mas já circulava nas chancelarias ocidentais. Já havia sido discutido entre os aliados de Kiev, os europeus e os estadunidenses. Washington até já o teria aprovado: Biden, escreve o jornal, disse estar pronto para fornecer qualquer apoio à iniciativa de Abu Dhabi. Nem mesmo Pequim abandona a hipótese de uma negociação para acabar com o conflito, escreve a agência estatal russa Tass, relatando os agradecimentos do chefe da diplomacia Sergey Lavrov ao seu homólogo chinês Wang Yi.
No entanto, Moscou queima. Não queima apenas a fábrica de fogos de artifício em Sergiyev Posad, na periferia da capital, mas também, metaforicamente, o Kremlin. E novamente pela Cúpula de Jeddah para a qual não foi convidado, mas que continua a ser discutida a portas fechadas. Altos funcionários relataram à mídia Moscow Times que a cúpula saudita trouxe à tona a nova tática implementada por Kiev para isolar Moscou, que, no entanto, "ainda não está pronta para assumir nenhum compromisso": "a fórmula de paz de Zelensky é na realidade uma capitulação da Rússia, é inaceitável".
Ontem, na Duma, o projeto de lei apresentado por Putin não leva a supor o fim da guerra: pelo contrário. De acordo com a emenda federal, Moscou não terá mais a obrigação de notificar os secretários da ONU e do Conselho da Europa sobre a introdução da lei marcial.
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Guerra na Ucrânia, Papa Francisco não desiste: “Encontro Putin-Zelensky” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU